Ação visa capturar criminosos do TCP após sete meses de investigação
Na manhã desta terça-feira (10), a Polícia Civil do Rio de Janeiro deu início a uma megaoperação no Complexo de Israel, localizado na Zona Norte da cidade. O principal objetivo da ação é cumprir pelo menos 70 mandados de prisão contra integrantes do Terceiro Comando Puro (TCP), um dos grupos criminosos mais atuantes da região.
Essa iniciativa faz parte de uma investigação que já dura sete meses e identificou 44 traficantes que, até então, não possuíam mandados judiciais. Com base em provas inéditas reunidas ao longo da apuração, as autoridades conseguiram embasar juridicamente os novos pedidos de prisão. Além desses, há mandados contra outros criminosos que já eram procurados pela Justiça.
Tiroteios e vias bloqueadas geram caos na cidade
Logo nas primeiras horas da operação, o clima ficou tenso. Intensos tiroteios foram registrados nas comunidades que formam o Complexo de Israel, resultando em dois homens baleados: um motorista foi atingido na Linha Vermelha e um passageiro, na Avenida Brasil. Ambos estavam dentro de ônibus quando foram alvejados, o que intensificou ainda mais a sensação de insegurança entre os moradores.
Como medida preventiva, importantes vias da cidade foram interditadas, causando congestionamentos massivos na Zona Norte. O Centro de Operações e Resiliência (COR) colocou a cidade em Estágio 2, o que indica risco de impactos significativos na rotina da população.
Moradores em pânico durante os confrontos
Vídeos que circularam nas redes sociais mostram o desespero dos moradores. Em uma das imagens mais comoventes, passageiros de um ônibus do BRT aparecem deitados no chão da estação, rezando e entoando louvores enquanto tiros ecoam nas proximidades. O episódio serve como retrato da tensão vivida diariamente por quem reside nessas regiões.
Quem são os alvos da operação?
O papel de “Peixão” na hierarquia do TCP
De acordo com a polícia, os criminosos investigados fazem parte do núcleo liderado por Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como “Peixão”. Considerado um dos traficantes mais perigosos do Rio de Janeiro, Peixão tem forte influência nas comunidades de Vigário Geral, Parada de Lucas, Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau — todas batizadas por ele de “Complexo de Israel”.
Peixão, que se declara evangélico, impôs uma rígida política de controle religioso na área, banindo práticas e cultos de religiões de matriz africana. A medida faz parte de uma tentativa de consolidar seu domínio sobre a região não apenas através da força, mas também do controle ideológico e cultural.
Investigação revela novas táticas do tráfico
Durante a apuração, a polícia descobriu que o TCP tem se sofisticado em suas estratégias para enfrentar as forças de segurança. Entre as táticas identificadas estão:
- Utilização de drones para monitoramento de viaturas e policiais;
- Barricadas espalhadas pelas ruas das comunidades para dificultar o acesso;
- Toques de recolher impostos aos moradores;
- Controle sobre serviços públicos, como fornecimento de internet e transporte local.
Além disso, foi identificado um grupo específico dentro da facção que tem como função organizar manifestações simuladas — como a queima de ônibus — para criar distrações e dificultar o avanço policial.
Outro núcleo atua com armamento pesado e treinamento específico para abater aeronaves policiais. Esse setor foi considerado pelos investigadores como uma das maiores ameaças à segurança pública do estado.
Impactos nos serviços públicos
Transporte público altamente comprometido
A operação teve reflexos imediatos no sistema de transporte do Rio de Janeiro. Segundo o consórcio Rio Ônibus, ao menos 50 linhas de ônibus tiveram seus trajetos afetados, com desvios, atrasos e até mesmo suspensões temporárias de circulação. Algumas das linhas impactadas foram:
- 292 (Engenho da Rainha-Castelo)
- 335 (Cordovil-Tiradentes)
- 384 (Pavuna-Passeio)
- 394 (Vila Kennedy-Tiradentes)
- SR342 (Jardim América-Castelo)
- 2303 (Cesarão-Carioca)
- 2381 (Pedra de Guaratiba-Castelo)
No sistema BRT, a calha exclusiva para os articulados precisou ser interrompida no trecho entre Deodoro e Gentileza, afetando as linhas 60, 61 e 71. Os veículos passaram a operar com intervalos irregulares, comprometendo o deslocamento de milhares de passageiros.
A rede aérea da SuperVia também foi danificada na região de Parada de Lucas, interrompendo parcialmente a circulação no Ramal Saracuruna. Técnicos aguardavam autorização da polícia para iniciar os reparos, em razão dos riscos de confrontos ainda em curso.
Escolas fechadas e aulas suspensas
O setor educacional também sofreu com os efeitos da operação. A Secretaria Municipal de Educação informou que 21 escolas tiveram suas atividades suspensas devido ao clima de insegurança:
- 10 unidades em Parada de Lucas e Vigário Geral;
- 8 em Cidade Alta;
- 3 nas comunidades de Cinco Bocas e Pica-Pau.
A Secretaria Estadual de Educação confirmou o fechamento de uma escola estadual na região. Já a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) adotou uma política preventiva mais ampla, suspendendo provas e dispensando a presença de estudantes e servidores em todos os seus campi.
A escalada da violência e o papel da polícia
A difícil missão das forças de segurança
A operação desta terça-feira é apenas mais um capítulo na longa batalha travada entre o Estado e o crime organizado no Rio de Janeiro. O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, destacou a importância da ação para desmantelar o esquema criminoso que opera dentro das comunidades. “Vários dos alvos não tinham antecedentes, o que dificultava sua identificação. Mas conseguimos reunir evidências suficientes para pedir os mandados”, afirmou Curi.
Segundo ele, a operação demonstra o comprometimento das forças de segurança com a restauração da ordem pública nas regiões mais afetadas pela criminalidade. “Não podemos permitir que facções imponham leis próprias, controlem territórios e ameacem a população”, completou.
A reação das comunidades
Embora parte da população apoie as ações policiais, muitos moradores vivem em constante medo, temendo represálias tanto do tráfico quanto de abusos policiais. O episódio desta terça reforça a urgência de políticas públicas que promovam segurança de forma estruturada, sem colocar em risco a vida dos cidadãos comuns.
ONGs e entidades de direitos humanos seguem monitorando os desdobramentos da operação, exigindo transparência e respeito aos direitos fundamentais durante as ações.
Segurança com responsabilidade e inteligência
A megaoperação no Complexo de Israel evidencia tanto a capacidade investigativa da Polícia Civil quanto os enormes desafios que o Rio de Janeiro enfrenta no combate ao crime organizado. A ação buscou desarticular uma das facções mais poderosas da cidade, mas também escancarou os impactos colaterais sofridos pela população.
Combater o tráfico exige mais que força: é preciso estratégia, investimento em inteligência e políticas sociais que atinjam a raiz do problema. Só assim será possível romper o ciclo da violência que marca a rotina de milhares de famílias.
Imagens da operação







Quer se manter informado sobre segurança pública no Rio de Janeiro?
Acompanhe as atualizações diárias em nosso site e nas redes sociais! Cadastre seu e-mail e receba notícias diretamente na sua caixa de entrada! Compartilhe esta informação e ajude mais pessoas a se protegerem!