Rússia entrega proposta de paz à Ucrânia durante nova rodada de negociações

Delegações da Rússia e Ucrânia reunidas em Istambul para discutir proposta de cessar-fogo e paz no conflito

A Rússia entregou um memorando com uma nova proposta de paz à Ucrânia durante a segunda rodada de negociações diretas entre os dois países para tentar acabar com a guerra. O encontro aconteceu nesta segunda-feira (2), um dia após ambos os lados realizarem ataques intensos e inéditos.

Segundo agências russas, como Tass, Interfax e RIA Novosti, Moscou manteve as exigências já conhecidas para aceitar um cessar-fogo. Entre elas, está a anexação de cerca de 20% do território ucraniano, incluindo as regiões de Crimeia, Lugansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson.

As conversas ocorreram em Istambul, na Turquia. A Ucrânia já havia rejeitado essas condições anteriormente. Mesmo assim, o documento russo foi entregue para análise.

As exigências da Rússia incluem:

  • Reconhecimento das cinco regiões ocupadas como parte do território russo;

  • Retirada das tropas ucranianas dessas áreas;

  • Fim do envio de armas e informações militares por países ocidentais à Ucrânia;

  • Eleições em território ucraniano;

  • Redução do tamanho do Exército da Ucrânia e da quantidade de armamentos;

  • Proibição do uso ou armazenamento de armas nucleares no país.

Até agora, as agências russas não mencionaram a exigência de que a Ucrânia fique fora da Otan.

Caso essas exigências sejam aceitas, a Rússia propõe um acordo de paz, fim das sanções econômicas entre os países e reabertura das relações comerciais, incluindo o fornecimento de gás.

Troca de prisioneiros e ataques pesados

O encontro em Istambul ocorreu após um final de semana tenso. No domingo (1º), a Ucrânia fez um ataque inédito em solo russo usando drones escondidos em caminhões. Segundo Kiev, 40 aviões militares foram destruídos. Em resposta, a Rússia lançou 472 drones contra a Ucrânia — o maior ataque desse tipo desde o início do conflito.

Apesar do momento crítico, os dois lados aceitaram realizar uma nova troca de prisioneiros. A proposta prevê a libertação de jovens de até 25 anos, feridos graves e doentes, além da devolução de 6 mil corpos de soldados mortos de cada lado.

O representante ucraniano, ministro da Defesa Rustem Umerov, afirmou que o governo vai analisar a proposta russa em até sete dias. Já o representante russo, Vladimir Medinski, disse que recebeu também uma contraproposta ucraniana, algo que não foi confirmado por Kiev.

Umerov informou que as partes concordaram em retomar as negociações no fim de junho.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, confirmou os acordos sobre a nova troca de prisioneiros e seu chefe de gabinete afirmou que a Ucrânia entregou à Rússia uma lista de crianças deportadas, pedindo que elas sejam devolvidas.

O clima da reunião foi ainda mais tenso por causa dos ataques recentes de ambos os lados:

  • A Ucrânia atacou bases militares na Rússia com drones escondidos em caminhões, danificando cerca de 40 aviões de guerra — quase um terço da frota, segundo Kiev;

  • A Rússia respondeu com o maior bombardeio de drones da guerra até agora, lançando 472 deles contra cidades ucranianas.

O ataque ucraniano atingiu quatro bases aéreas espalhadas pela Rússia, incluindo regiões distantes da fronteira como a Sibéria. Autoridades ucranianas disseram que caças estratégicos foram danificados.

As negociações entre os dois países começaram no dia 16 de maio, com a primeira rodada também realizada em Istambul. Na ocasião, o único avanço foi o compromisso com a troca de mil prisioneiros de guerra de cada lado.

Análise de especialistas e interesses em jogo

A jornalista Sandra Cohen comentou que o ataque ucraniano com drones foi ousado e humilhou a Rússia, tirando o foco das negociações de paz.

A nova rodada de conversas ocorreu no Palácio Ciragan, na cidade turca. Os russos chegaram no domingo e os ucranianos na manhã de segunda.

No domingo, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, conversou por telefone com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, sobre o andamento das negociações.

Pontos distantes de um acordo

As posições de Rússia e Ucrânia seguem muito distantes. A Ucrânia quer um cessar-fogo imediato e sem condições, além da devolução de prisioneiros e das crianças deportadas.

Zelensky também quer se reunir pessoalmente com Vladimir Putin, mas o Kremlin já recusou esse pedido diversas vezes.

Moscou, por sua vez, não aceita cessar-fogo sem antes tratar das “causas reais” da guerra. Exige que a Ucrânia desista de entrar na Otan e entregue os territórios ocupados.

Essas condições são inaceitáveis para Kiev, que exige a retirada completa das tropas russas e garantias de segurança de aliados, incluindo presença militar da Otan em seu território — o que Moscou também não aceita.

Conflito continua violento

A guerra, que começou em fevereiro de 2022, já deixou dezenas de milhares de mortos, entre civis e militares dos dois lados.

O principal negociador russo nas conversas é Vladimir Medinski, conselheiro próximo de Putin e que já liderou negociações fracassadas no início da guerra. Ele também é conhecido por declarações que negam a legitimidade da Ucrânia como nação.

Do lado ucraniano, quem lidera é Rustem Umerov, atual ministro da Defesa, considerado um negociador experiente, apesar de seu ministério estar envolvido em escândalos.

No domingo, a Ucrânia afirmou que o ataque com drones causou prejuízos de até US$ 7 bilhões à Rússia. A operação foi feita com drones levados clandestinamente até solo russo e lançados contra instalações militares.

Além dos danos, o ataque tem um forte impacto simbólico e pode influenciar o rumo das negociações entre os dois países.